Vozes de Caminha

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Saturday, December 30, 2006

Ab ortu



Obrigado mamã!
Quiseste-me!
Beijnhos para ti!

Wednesday, December 27, 2006

Santuário rupestre


Santuário rupestre em Vilar de Mouros



Defender o património arqueológico não é tarefa fácil.
Há organismos que o tutelam: mas o desconhecimento, real ou procurado, põe-no em risco. Têm estado na primeira linha de defesa do Património Arqueológico de Caminha instituições locais, a CMC cremos que em primeiro lugar, a COMDECA e a COREMA. Compromissos, interesses confessáveis e inconfessáveis, subavaliação de danos confrontados com mais valias pretendidas, ignorando soluções possíveis, silenciando vozes de protesto de preferência ao diálogo entre todos os que querem o melhor para Caminha, usando e abusando do facto consumado na velha filosofia de que "burro morto, cevada ao rabo", ... vão pondo em risco monumentos cuja perda se lamentará.



Vem isto propósito de um santuário rupestre recentemente descoberto, em Março de 2006, que não era único no Concelho mas agora é (há vestígios de outro também em Vilar de Mouros), paralelo do de Panóias (Vila Real), com a particularidade de se encontrar dentro de um castro mineiro, assinalado por estruturas domésticas castrejas de planta circular, e com paralelos em estudo dentro e fora do país. Castelejo é o nome do sítio; e fica em frente de Soutelo, lugar com petróglifos de grande interesse e em ambiente do Bronze Final pelo achado de machados de argolas duplas.



Está sinalizado (41º53' 11'' N;08º 46' 13'' W, MG).





A tutela foi advertida. Será que resiste?


Abel Domingues

Tuesday, December 26, 2006


PRÉ-HISTÓRIA

Indústrias líticas do litoral minhoto

O nome de Âncora é celebrizado como estação epónima de artefactos líticos de características singulares. Investigadores do nosso paleolítico deram o seu melhor no estudo do pico ancorense e do seu congénere, o pico asturiense, se entre eles há distinção. Desde Rui Serpa Pinto, Martins Sarmento e Abel Viana se têm esforçado, denodadamente, os arqueólogos investindo na sua caracterização, estudo de dispersão, e no dos restantes instrumentos associados, lascas, raspadeiras, núcleos e pesos de rede. Abundam pelas praias, de Viana à costa galega, onde convivem os mais antigos com produções mais recentes pois a tecnologia da sua produção e utilização teve nestas zonas litorais uma vigência multissecular. Têm os arqueólogos o cuidado de os extremar por tipologias e de atender a aspectos de erosão, degradação de arestas, ângulos de fractura, patine, morfotipologia do gume e do recorte e retoque de lascas.
Os estudos mais antigos, embora não desprezassem informações estratigráficas, baseavam sua análise em materiais, na maior parte recolhidos nas cascalheiras litorais. O avanço e maior exigência da prática arqueológica leva os investigadores actuais, que se dedicam ao paleolítico a minuciosas escavações, a ter apenas em consideração dados obtidos em contextos estratigrafados.
Tem sido dinamizador deste estudo José Meireles, conhecedor da evolução morfo-sedimentar e pedológica da zona, que no concelho de Caminha escavou terraços na Gelfa e em Santo Isidoro, para esclarecimento da problemática do Quaternário na região.
Identifica aí formações marinhas recentes que insere no enquadramento “cronoestratigráfico do Plistocénico da fachada atlântica europeia”.
Os seus estudos, em terraços seleccionados, permitiram-lhe identificar sucessão de ritmos dinâmicos diversos, alternando-se momentos de climáticos rigorosos com outros de maior amenidade que deixaram marcas na morfologia estratigráfica do solo.
José Meireles situa os primeiros vestígios de presença humana na região de Caminha, segundo os dados de escavação, segundo ele, integrados na sequência litoestratigráfica regional, incluídos “no seio da penúltima unidade sedimentar de origem marinha com vestígios que atribui à indústria Acheulense, com cronologia entre 250.000 e 200.000 B. P. .
Caracterizando a indústria do instrumental dá-se conta de uma certa preferência pelo talhe unifacial dos utensílios.
Esta preferência standardizada no litoral minhoto, é verificada no Plistocénico Superior e não representa sinal de arcaísmo, mas uma adequação funcional de determinado tipo de material do modo julgado mais eficiente e simples.


É de notar que a tecnologia desta produção de instrumentos líticos persistiu com idênticas soluções para idênticas finalidades e abundam nos povoados convivendo com os utensílios metálicos, colmatando a sua escassez, ou mesmo substituindo-se-lhes na eficiência em determinadas tarefas. A etnografia documenta o uso hodierno ao retirar peles, que se querem preservar sem cortes desnecessários, de animais destinados à dieta alimentar, por artesãos munidos de lascas líticas, que introduzem entre as peles e carne dos animais abatidos, para rapidamente os esfolarem, tarefa que não seria mais cómoda com outro tipo de objecto cortante.
A. Baptista Lopes


MEGALITISMO

Entre os monumentos mais emblemáticos existentes no concelho de Caminha, documentando a presença humana na fase de sedentarização nestas paragens, o mais conhecido por melhor conservado na sua estrutura pétrea é sem dúvida o dólmen da Barrosa.
Testemunhando, com outros monumentos congéneres desta zona, o dólmen da Eireira entre outros, a inserção do Norte de Portugal neste vasto fenómeno de profunda alteração de hábitos e de modo de viver e de relacionamento com o meio ambiente, mudanças sócio-económicas e culturais que aqui se desenvolveram, potencializadas, certamente, pela amenidade do clima, fertilidade do solo e riqueza quase inesgotável de recursos piscícolas dos rios, circunstâncias apelativas a mais prolongada permanência e fixação do homem pré-histórico, o que terá acontecido, em lento processo de evolução ao longo dos dois mil anos que precederam o IV milénio a. C..
A planície do vale do Âncora é uma vasta extensão de solo de primeira qualidade agrícola, resultante da erosão marítima e da posterior sobreposição de estratos aluvionares das serras circundantes, que a protegem dos ventos e nela permitem a concentração de calor e para aí fazem convergir as águas fertilizantes das vertentes.
Era um sítio ideal para assistir à fixação do homem, à adopção de novos padrões de economia produtiva, à evolução de um estádio de sociedades predadoras para uma fase de mais garantida subsistência, complementando a mariscagem abundante e a pesca, com apascento do gado e iniciando o cultivo das primeiras sementes na terra fértil, que ocupou com monumentos demonstrativos da sua capacidade de organização do trabalho, de hierarquização, domínio territorial, e que manifestam capacidades técnicas, padrões de mentalidade e aspectos culturais surpreendentes.
O dólmen da Barrosa, em Vila Praia de Âncora, a antiga Gontinhães, é um dos espécimes melhor conservados, no panorama de monumentos megalíticos existentes no país.
Apresenta na sua integridade a câmara funerária, com a pedra de cabeceira fracturada no topo, os esteios imbricados sustendo a laje de cobertura e, a balizar o que seria extenso corredor, dois alinhamentos de pedras mutiladas. Nem faltam vestígios do tumulus que cobria o monumento, mas que a erosão e a desastrada intervenção humana danificou. Dos seus esteios foram levadas gravuras rupestres que ornamentavam o interior; testemunhos culturais dos primitivos habitantes desta terra, e que dormem o sono do esquecimento no Museu da Faculdade de Ciências, longe da sua origem.
Nos recintos dolménicos a inumação era cercada de rituais, sendo os mortos depositados com o aparato correspondente ao seu status, com os seus pertences, adereços, armas e objectos de utilidade comum. A reserva ritual de objectos que custavam adquirir e de prestígio dá-nos a entender interessantes aspectos culturais e de mentalidade, do respeito tributado aos mortos, ou a certos mortos, quer signifiquem crença num estádio de vida em que seriam precisos ao defunto, armas para se defenderem e sobreviverem, baixela para se alimentarem e adornos de identificação na sua categoria social, quer fossem tradução de mero simbolismo ritual.
Alguns dólmens conhecidos, menos vandalizados ao longo dos tempos, conservaram pinturas que nos esclarecem de aspectos do tipo de actividades e até do seu gosto artístico. No da Barrosa essas manifestações não sobreviveram, nem mesmo as gravadas no granito.




Retirados dele, estão depositados no Museu da Faculdade de Ciências do Porto, aos Leões, dois fragmentos de esteios decorados.

A. Baptista Lopes










Estas manifestações de uma arte simbólica, cujo grafismo nos esconde uma mensagem que não sabemos descodificar, não são as únicas manifestações artísticas que o concelho de Caminha e os contíguos conservaram, preservados das contrariedades da evolução e alteração do ambiente. Dispersos pelos montes, em rochedos naturais, protegidos pelo esquecimento e pela inacessibilidade, persistem núcleos de gravuras rupestres de diversa natureza e tipologia.

São disso exemplares notáveis pela sua extensão e originalidade a Laje das Fogaças e a Laje das Carvalheiras, Lanhelas, Caminha.
A primeira, de difícil acesso, pois se encontra nas imediações de oficina de pirotecnia e se prolonga sob terreno cultivado e murado e sob o piso de terra de um caminho vicinal, associa motivos abstractos, se não representação de implantação de povoado com seus desenhos de cercados, a representações de cervídeos que sugeriram a A. C. F. Silva associação ao nome dos Seurvos de que a toponímia conservou a memória na designação de Cerveira, o povo mais vizinho.

Descontando a louvaminha de Estrabão para subir no conceito do imperador, ele grego de origem e de cultura, o que é certo é que a prática de má vizinhança, se existia, levava a desejar a contenção de tal estado de coisas e a estimar a estabilidade que ocasionava um poder de mão forte, que seria tido em conta de benefício, mesmo vindo dos romanos, acrescendo a admiração natural por uma cultura superior, um fazer diferente e melhor, que levou ao desejo de imitação, esbateu as barreiras entre conquistadores e conquistados. De resto, os generais romanos tomaram estratégicas medidas de aliciamento, evitando odiosas intervenções e alardeando clemência, distribuindo terras a vencidos, fazendo ver as vantagens da organização do estado de direito, como agora se diria. O estabelecimento de tratados, o apelo a Roma pelos indígenas contra desmandos e prepotências de generais, mesmo quando não atendidos, dão a supor uma certa reverência e confiança numa autoridade que ou se prefere a uma pior ou se tolera.




Em 138-136 a.C. o general romano Décimo Júnio Bruto, empreendeu numa expedição punitiva contra os galaicos, com o pretexto de terem ajudado os seus vizinhos do Sul , os lusitanos.
Depois de uma acidentada travessia do Lima, vencida a renitência dos soldados em acompanhá-lo, temerosos de que esse rio fosse o fabuloso Letes, chega ao o rio Minho.
Não o atravessou dizem as fontes. Também não é de supor que se tenha retirado apressadamente.
Esse contacto, pelas motivações, proporções assumidas, meios envolvidos, influenciou o mundo indígena que a ele teve de se opor, adequando a sua resistência, copiando estratégias, imitando tecnologias, aparato e artefactos.

Para A. C. F. Silva, atendendo à importância deste acontecimento, e à correspondência cronológica de alterações tecnológicas verificadas nos artefactos arqueológicos por ele exumados nos castros da zona, esta data é considerada baliza iniciadora de nova época da sua periodização cultural da civilização castreja do Noroeste.

Novas relações foram estabelecidas com Roma, reforçadas com a pacificação e ocupação do Noroeste Peninsular, após as guerras cântabras (29-19 a. C.).

Monday, December 18, 2006

Baixo Minho

O Rio Minho

Entre as referências clássicas que se reportam ao conhecimento mais antigo da costa peninsular e descrição dos acessos de acostagem e penetração para o interior, o rio Minho é um dos que mereceram especial menção.

Constando da lista de nomes de Plínio, em Estrabão é descrita a morfologia da sua embocadura, com uma insula a separar as duas barras, das margens que o confinavam, aspectos nada despicientes para o relacionamento com o comércio mediterrânico que veio a concorrer e a substituir outros relacionamentos norte-atlânticos.

De Bénis muda de nome para Minius, o que de algum modo atrai mais atenção, pela explicação que pede a alteração, a existência de mínio. Discute-se sobre a localização da nascente, o seu percurso, mas dão-se informações precisas sobre acesso, navegabilidade e recursos.

A minuciosa análise de Estrabão do potencial de riqueza económica não especifica, por razões óbvias do interesse romano, o principal recurso. Sal, peixe e derivados, cavalos seriam produtos bem-vindos ao comércio romano. Mas era, sobretudo, a riqueza metalífera o grande motor de colonização, aliada a um povoamento denso capaz de fornecer a mão-de-obra necessária à exploração, com garantida subsistência por recursos alimentares abundantes, de pesca, marisco, caça e produtos agrícolas,

O rio Minho foi na romanização, a estrada do ouro e do estanho. Por alguma razão Plínio é enviado a estas paragens em missão oficial.

Desde Ourense, Las Medulas e Covas são sítios exemplares da presença de materiais estratégicos para manutenção da presença romana.

A listagem das potencialidades mineiras de caciterite e ouro em ambas as margens, até à foz, como se documenta por explorações arqueológicas e reservas actuais, mais que justifica a estratégia de ocupação romana, com índices de profunda romanização indígena, como se deduz da análise da cultura material.

O acesso comercial a estes recursos estratégicos, mesmo a partir do Mediterrâneo, é anterior à romanização. Disso são testemunho materiais de tradição púnica e gregos em Santa Tecla, Coto da Pena, entre outros lugares.

Os indicadores de povoamento do Baixo Minho, pelas razões apontadas, favoráveis a expansão demográfica, permitem-nos determinar diversos níveis de ocupação, estabelecer horizontes culturais que ilustram a sua evolução nesta zona:

O Paleolítico é abundantemente ilustrado por indústria lítica de picos e lascas de quartzito, Asturiense / Ancorense;

Representam o Neolítico estruturas de arquitectura monumental e a memória de muitas outras desaparecidas. O dolmen da Barrosa é o exemplar mais bem conservado.




O início da metalurgia com o horizonte de Atíos /Água Branca denota, além de evolução tecnológica, aspectos de organização e estatuto social denunciados por armas de cobre e esplêndida ourivesaria

Coto da Pena (Vilarelho, Caminha) e Santa Tecla (Pontevedra) documentam no Bronze Final, uma continuidade no relacionamento das duas margens, entre si, com o Norte-atlântico e o mundo mediterrânico, ilustrando a fase IA (A. C. F Silva 1986) nesta área.
Este período de formação notabiliza-se pelo incremento dado à metalurgia. Novas ligas e diferentes tecnologias de fundição que permitem obter lâminas com elasticidade suficiente para aplicação em fíbulas de molas (tipo Alcores e Acebuchal em Coto da Pena). O facto de algumas peças não terem bolhas resultantes de gases da fundição indica que os técnicos metalúrgicos usavam barros porosos na moldagem, o que se confirma pela natureza das coquilhas que têm aparecido em escavação.

A fase IB, seguindo a mesma periodização (A.C.F.Silva 1986), de desenvolvimento tecnológico e de maior relacionamento com o interior e Sul, estaria bem patente no Castro de Torroso. na Galiza.

Alterações políticas e económicas a Sul, depois do sucesso da batalha de Alália (535 a.C.) e 1º tratado Roma/Cartago (509 a.C.) tiveram consequências a Norte, com novos relacionamentos, detectáveis na cultura material do Baixo Minho, por assimilação de novas tecnologias Movimentações dos célticos e túrdulos (Estrabão, 3, 3, 5; Mela, 3, 8; Plínio, 4, 112-113) trazem consigo uma cultura celtizante que deixou marcas nas zonas onde se implantaram, os célticos entre o Lima e a ria de Pontevedra.

Esta nova fase, II A, é bem representada nas estações de Coto da Pena em Vilarelho, Caminha (A. C. F. Silva 1986) e no lado oposto, pelo Castro da Forca e Troña (Hidalgo Cuñarro 1996).

Produtos gregos continuam a chegar através do comércio púnico. Importações itálicas, v.g.pré-campaniense (A. C. F. Silva 1986) no Coto da Pena (Vilarelho) e em Santa Tecla comprovam novos relacionamentos comerciais.
O fim da 2 ª guerra púnica (201 a.C.), prenuncia mudanças que para A. C. F. Silva justificam uma fase IIB.

Mas o acontecimento mais marcante que anuncia o interesse romano pelo Noroeste vem a ser, em 138 a. C., a expedição de D. Júnio Bruto.
Âncora (Caminha), Santa Tecla (Pontevedra), Santa Luzia (Viana do Castelo), entre outros grandes povoados, surgem na intenção de responder, por junção de forças em aglomerados concentrados e organizados espacialmente, a interesses de domínio exógeno, o que implicaria hierarquização dos povoados e ordenamento de estratégico domínio territorial. É o início da fase III, divisível em duas etapas, IIIA e IIIB (A. C. F. Silva 1986) pelas guerras cântabras (27-19 a.C.) e vindo a terminar com a dinastia dos Flávios (69-96 d.C.).
A fase IV, a partir dos Flávios vai até ao estabelecimento dos Suevos em Tuy (411 d.C.).

A ocupação romana, dada a natureza acidentada do território, estabeleceu estratégias de domínio no condicionalismo possível. Os castros continuaram ocupados, novos povoados surgem a menor altitude, castros agrícolas (C. A. B. Almeida 1996), explorando os terrenos aluvionares de boa aptidão agrícola, sem abandonar locais onde a reserva de mão-de-obra era necessária para as tarefas de extracção mineira

Os centros de comando, na romanização, aparecem com mais força na margem direita do Minho, vindo Tuy, situada no cruzamento da via fluvial com a estrada romana, a tomar a hegemonia como cabeça de território que detinha na chegada das invasões germânicas e que conservou até alta Idade Média

Da natureza do domínio romano desde a versão de moderação e entendimento até crueza de trato têm-se feito valer diferentes posições.

A arqueologia dos povoados do Baixo-Minho e a análise da cultura material mostra pacífica evolução: alargamento de casas sem alterar função, reaproveitamento de estruturas, imitação de modelos cerâmicos, utilização de adereços romanos, assimilação de tecnologias. Orósio (Histórias VII, 41) porém, como lembra A. González Blanco (1984, 59-60) na catequese dos cristãos invadidos, faz ressaltar uma sensação de castigo divino aos romanos pelo mau trato das perseguições durante duzentos anos, e até de uma certa boa vontade dos invasores que, a troco de terras e de dinheiro, até deslocavam, se assim o queriam, os indígenas, pacientes e obedientes aos desígnios divinos, para outros lugares mais seguros. A opinião de Orósio não parece estar muito de acordo com a destruição verificada na villa romana de Afife e por um conjunto de entesouramento aí escondido de moedas dos séculos IV/V.

A romanização conduziu à unificação da cultura, da língua, do modo de viver e esbateu as barreiras individualizantes de muitos povos, agremiando-os, segundo as conveniências administrativas de Roma, manu militari. Com a crise da anarquia militar do século III d. C., o poder enfraquecido deixou de ser tão intervencionista; rarearam as ordens vindas de Roma. Houve um certo ressurgimento e progresso cultural, detectável nas estações à beira do Minho; melhores produções cerâmicas, dispersão do povoamento pelas terras agricultáveis.

A imagem da Galécia no século IV, antes das invasões bárbaras era favorável, segundo a descrição da Expositio totius mundi et gentium: “A seguir à Gália vem a Hispânia, terra vasta e grande, rica em homens doutos e em todos os negócios de que mencionamos parte: exporta, suficiente para todo o mundo, azeite, garum, vestuário variado, toucinho, e montadas. (…)
Sobretudo exporta esparto, o melhor da terra pela qualidade, necessário porque salva todo género de barcos”.
O esparto era de facto indispensável ao desenvolvimento da navegação comercial. justificando-se a implementação da sua produção.

A foz do Minho de excelentes condições de aportagem, com recursos mineiros estratégicos, era porto de escoamento e de contactos bem documentados pela arqueologia.

A. Baptista Lopes

Património em risco


Vieram no passado na imprensa comentários à intenção de desclassificar o Castro do Coto da Pena, Vilarelho, Caminha, com recurso a veredicto de instituição superior. O Coto da Pena é uma estação-padrão por ser um povoado castrejo com uma perduração de mais de 2000 anos, ocupado em continuidade, desde o Bronze Final à Idade Média. É surpreendente que interesses poderosos alimentem a fúria do caterpillar com desprezo por essa jóia do património cultural de Caminha. de estruturas pétreas defensivas e habitacionais insculturadas na rocha que, dada a sua monumentalidade, bem mereciam ser fruídas pelos turistas e por todos aqueles que se orgulham do património histórico de Caminha. No Museu Municipal está bem documentada a cultura material e o viver neste povoado, dos poucos estudados arqueologicamente com método, devido ao labor do prestigiado investigador da FLUP, A. C. F. Silva. Cremos no bom senso dos decisores e que se não progrida no atentado a que nem a sua atempada classificação conseguiu completamente obviar.Abel Domingues