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Thursday, January 04, 2007

Foz do Minho desde o Bronze Final

Desde o Bronze Final, os povoados foram progredindo ao sabor das facilidades climáticas e consoante os recursos da agricultura que progredia com a fertilidade dos campos, introdução de sementes e novas técnicas de cultivo e de colheita, e com os melhoramentos tecnológicos que o domínio da metalurgia propiciava, como se comprova pela frequente presença de foices de bronze, de talão e de alvado e variedade de sementes carbonizadas de gramíneas e de cereais. Complementava o homem essa riqueza de facilidade de subsistência com produção e armazenamento de excedentes, com criação de gado e recurso, em alturas de falha de produtos agrícolas, à pesca em rios acessíveis, na actualidade ainda abundantes em espécies piscícolas. Os habitantes da zona mais litoral tinham, além disso, para diversificarem a dieta alimentar, a vantagem de lhes ser possível a recolecção de marisco, circunstância documentada nos detritos de concheiros dentro dos povoados de que é informação exemplar a encontrada no Coto da Pena, Vilarelho, Caminha, e na Coroa de Carreço.A variedade de espécies malacológicas então utilizadas na alimentação continua existente e de consumo generalizado,

No III milénio a economia agro-pastoril tinha-se apropriado das terras mais produtivas. Das sementes que nos chegaram carbonizadas temos testemunhos de espécies que vão ser encontradas em períodos posteriores, do Bronze e Ferro em vários povoados (v. g., Coto da Pena, Vilarelho). A bolota, a fava (vicia faba sp.celtica nana), o trigo (triticum spherococcum globiforme) a cevada (hordeum sp.) eram fornecedoras de matéria para farinação. Havia, linho (lineum humile), e “pesos de tear” de quatro furos, que melhor se interpretariam como separadores de urdidura, e de um furo são frequentes nos ambientes habitacionais a documentarem a confecção de vestuário.

Chegados ao Bronze Final as populações estavam estabilizadas nesta área, com domínio efectivo do território, como demonstram povoados já posicionados em altura, com protecção procurada e reforçada, como é o caso de Santa Tecla e do Coto da Pena, este com estruturas pétreas de defesa desde o Bronze Final.

Foices de talão e de alvado, documentadas em Coto da Pena e em Santa Tecla, de modelos padronizados atlânticos, atestando a procura de eficiência nas tarefas incómodas das ceifas, machados de bronze de talão, que permitem melhor encabamento e reforçam o esforço humano na desflorestação, são frequentes indícios nos povoados desta época. A evidente semelhança de modelos típicos e a sua dispersão demonstram forte relacionamento no quadro de uma vasta área norte-atlântica e uma sociedade de organização económica e social paralela.

Fase I (segundo cronologia de A.C.F.Silva 1986)

O início da metalurgia, nesta zona, representado pelo horizonte de Atíos /Água Branca, com evolução tecnológica e desenvolvimento de organização e hierarquização social, denunciadas por tumulações individuais ricamente guarnecidas dos símbolos do poder, armas de cobre e esplêndida ourivesaria, vão permitir que entre cerca do ano 1000 a.C. e 500 a.C. se desenvolva um processo de formação de um modelo de vida com características específicas no assentamento dos povoados, na gestão do espaço e domínio territorial, com posse efectiva por povos identificáveis, relacionados entre si e com forte coesão a diversos níveis, familiar, de povoados e de conjuntos de povoados, com chefias obedecidas.

Coto da Pena (Vilarelho, Caminha) e Santa Tecla (Pontevedra) documentam no Bronze Final, uma continuidade no relacionamento das duas margens, entre si, com o Norte-atlântico e o mundo mediterrânico, ilustrando a fase IA (A. C. F Silva 1986) nesta área.

Coto da Pena (Vilarelho, Caminha) e Santa Tecla (Pontevedra) documentam, no Bronze Final, uma continuidade no relacionamento das duas margens entre si, com o Norte-atlântico e o mundo mediterrânico, ilustrando a fase IA (A. C. F Silva 1986) nesta área.

Este período de formação notabiliza-se pelo incremento dado à metalurgia. Novas ligas e diferentes tecnologias de fundição que permitem obter lâminas com elasticidade suficiente para aplicação em fíbulas de molas (tipo Alcores e Acebuchal em Coto da Pena). O facto de algumas peças não terem bolhas resultantes de gases da fundição indica que os técnicos metalúrgicos usavam barros porosos na moldagem, o que se confirma pela natureza das coquilhas que têm aparecido em escavação.

Estruturas pétreas defensivas nos povoados, cerca do ano 1000-900 a.C., já se documentam em alguns castros, v. g., em Coto da Pena, Caminha, e não parecem desprovidas de funcionalidade ou ser simplesmente honoríficas. As habitacionais mostram já uma tendência para o circular, com muros espessos e sólidos, de pedra miúda assente em barro.

A listagem de estações e sítios de achados, dá uma ideia de incremento demográfico já no Bronze Final, prenúncio do panorama posterior.

As foices de talão, de tradição atlântica estão em ambos os lados em Tecla e em Coto da Pena (III, 80), documentando o horizonte do Bronze Final em ambos os povoados, acrescendo em Santa Tecla um conto de lança (III, 81, 4) tipo Senhora Guia (Baiões, S. Pedro do Sul), e em Coto da Pena (Vilarelho, Caminha), rebites de caldeirão de bronze (III, 81, 1-3) e fíbulas Alcores e Acebuchal (III, 86, 1,2).


Fase II A

É bem representada nas estações de Coto da Pena (Vilarelho, Caminha, (A. C. F. Silva 1986) e no lado oposto, pelo Castro da Forca e Troña (Hidalgo Cuñarro 1996).

Produtos gregos continuam a chegar através do comércio púnico. Importações itálicas (pré-campaniense; A. C. F. Silva 1986) no Coto da Pena (Vilarelho) e em Santa Tecla comprovam novos relacionamentos comerciais.


Fase II B

O fim da 2 ª guerra púnica (201 a.C.), prenuncia mudanças que para A. C. F. Silva justificam uma fase IIB.

Caminha não teria a expressão de povoamento que hoje lhe cabe. O paroquial suévico chama-lhe Santa Maria de Camenae e Camina e dela fariam parte as antigas freguesias de S. Martinho de Lanhelas, Santa Ovaia de Vilar de Mouros, S. Jacob de Cristelo, S. Paio de Moledo, Santa Marinha de Vilar de Âncora, e Vilarelio onde se encontrava sedeada a “collatione de Sancta Maria de Camina”, ainda hoje considerada a igreja-mãe, a “igreja velha”. Embora sob a égide de Tuy, sede da diocese, o castro do Coto da Pena de Vilarelho apresenta ter, então, mais importância do que a Cividade de Âncora.

Edrici, Ben-Abdala-Ben Edrisi, na Geografía de España, p. 60, em tradução de D. José Maria Condé, refere um castelo em ilha a montante da foz do Minho e outro mais acima do precedente, chamado Abraca, em Camgmena, que foi utilizado em 716 nas incursões árabes contra Tui. Uma tradução recente do texto de Edrisi, em vez de “Abraca”, traz “Boega”, posicionando a fortaleza na ilha assim chamada.

Plínio Velho, com funções oficiais durante o império de Tito e Nero, superintendendo a extracção de metal, fala da navegabilidade do Minho onde circulavam barcos de couro cosidos com linho e não com esparto, encanastrados com vime, transportando produtos até às naves dos comerciantes, manobrados por indígenas, todos considerados descendentes de Gregos “ …a Cilenis, conventus Bracarum, Heleni, Grovii, Castelum Tyde, graecorum sobolis omnia insigne oppidum Abobrica Minius (Naturalis Historia, Lib IV, XXXV).

A importância estratégica do rio Minho foi sempre considerada; não foi esquecido nas campanhas de Brutus, nem depois nas de Caesar.

Decimus Junius Brutus (137-138 a.C.) não passa além do Minho. Caesar ultrapassa-o na segunda e terceira campanhas, estacionando junto do Sil, zona aurífera, não a única nas suas margens.

Caesar Augustus (27a.C.) submete a zona e, apoderando-se da riqueza aurífera, navegando até Tyde e Auria, mesmo até próximo de Lucus, se os 800 estádios apontados por Estrabão são 150 km, não dizendo a que tipo de embarcações era apto em termos de navegabilidade.

A entrada do rio era um ponto estratégico a ter em conta na manutenção da via fluvial aberta.

Paulo Orósio in Historiarum adversus paganos, Livro VIII, XXI, ao referir-se à III campanha de César Augusto realça, no cenário dos combates, o ataque a uma posição iminente, “mons Minio flumini iminens, o Mons Medullius, colocado por alguns na Serra de Arga e por outros perto de Tuy, entre outras propostas incluindo Santa Tecla.

Para A. C. F. Silva, nesta parte do litoral Noroeste, seriam três as entidades maiores. A Sul do Douro, os Turduli têm presença confirmada pelas fontes clássicas (Plínio N. H. IV; Mela, Chorografia, III, 8) e documental pelas tesserae de Monte Murado (Vila Nova de Gaia). Ocupariam a região entre Vouga e Douro.

Os Bracari, posicionar-se-iam entre o Douro e o Lima. Os Grovii teriam um território de correspondente extensão; ocupariam uma zona mais deslocada para Norte do que a assinalada por Mela, entre o Lima e a Ria de Vigo. O centro de maior visibilidade dos Grovii seria Santa Tecla, na margem onde há maior incidência toponímica. Estariam estabelecidos em diversos castella, à direita e à esquerda do Minho, entre eles, a Cividade de Âncora e mesmo Santa Luzia.

Estas três entidades Turduli, Bracari e Grovii assumem importância relevante pela epigrafia, pela toponímia, pelas sequelas do seu domínio perdurante.

Firmín Pérez Losada (2002, 61) destaca a importância de Tuy que assumiu durante a romanização, reconhecida pelas menções de Plínio Velho na História Natural (70 d. C.), de Sílio Itálico na Púnica (fim de séc I d. C.), de Ptolomeu na Geografia (II d. C.), do Itinerário de Antonino (séc.III/IV d. C.) e do Anónimo de Ravena( IV/V d. C.):
“A seguir aos Cilenos, vem o conventus dos Brácaros com os Helenos, os Gróvios, o castellum de Tyde, todos eles descendentes de Gregos” (Plínio IV, 112).
“E os que agora, chamados Gróvios, por corrupção do nome Gregos, da casa (descendência) de Eneias e da Etólia Tyde…”(Sílio Itálico, III, 366).
“Eólia Tyde, fundada pelo errante Diomedes” (Sílio Itálico III, 368).
“Grouvion; Toudai, 8º 20’; 41º 45’”, « Tyde (cidade) dos Gróvios, 8º 20’; 41º 45’» (Ptolomeu, II, 6, 44).
“…Limia m. p. XVIII, Tude m. p. XXIIII, Burbida m. p. XVI…” (Itinerário de Antonino).
“…Limea, Tude, Bonisana,…” (Anónimo de Ravena).

O Paroquial Suévico (572-582), confirma o domínio de Tuy nas duas margens do Minho, mencionando, na listagem das dezasseis igrejas que pertenciam a essa diocese, oito identificadas na margem esquerda (A. Fernandes 1997) que continuaram dependentes de Tuy, sendo menor esse número, na margem esquerda, o identificado por M. Fernández (Pérez Losada (2002):
“ ad Tudensem (sedem) ecclesiae qui(?) in vicino sunt: Turedo, Tabulela, Lucoparre, Aureas, Langetude, Carisiano, Marciliana, Turonio, Celesantes, Toruca. Item pagi: Aunone, Sacria, Erbilione, Cauda, Ovinia, Cartase”.

O esquecimento de Abóbriga e de outras referências pré-romanas a favor de Tuy, sugere que o poder regional até aí repartido por diversos castella dos Gróvios de um e de outro lado do rio, terá sido absorvido por Tuy em época romana que assim se tornaria a sede do domínio. Havendo o precedente destas dependências da margem esquerda, compreender-se-á a futura posição hegemónica de Tuy, que conservou até ao fim da Idade Média, beneficiando do seu estratégico posicionamento no “centro de um contacto cruciforme” segundo a expressão de Jaime Cortesão em “Factores democráticos da formação de Portugal”, no entroncamento das vias fluvial (o Minho) e terrestre (a via XIX). A cultura material abona ainda mais a irmandade das duas margens do Minho, resultante da circulação de produtos e pessoas, intensificada com a romanização, sobretudo após as reformas flavianas na região.

Numa certa continuidade histórica, a margem esquerda do rio Minho permaneceu dependente eclesiasticamente de Tuy até ao século XV.

A localização de igrejas de um e de outro lado do Minho, nos povoados e no campo, vinculadas ao bispado de Tuy, segundo a listagem do Paroquial Suévico, supõe em ambas as margens um substrato comum, abonando a opinião do estabelecimento dos Gróvios em ambos os lados.

São mencionadas as seguintes (identificação de A. Fernandes 1977):


Tude = Tui

Turedo (leitura de P. David), = Touredo, Loureda, A Caniza.Corello
(leitura de M.Fernandez)
Corelo, =Vascões, Paredes de Coura (A. Fernandes).

Tabulela (leitura de P. David), Tabolela = Taboexa, Entre Monção e Puenteareas.

Lucoparre (leit. de P. David), Locoparre = Longovares, Longos Vales, Monção.

Aureas = ?

Langetude = Langude, Pias, Ponteareas (M. Fernández).
= Longe Tude (Longe a Tude)a parte mais afastada da diocese de Tuy (A. Fernandes).

Carisiano = ?

Marciliana = Marcillá, Filgueira, Crecente (M. Fernández).
Marzá ( Marzán), Rosal, La Guardia (A. Fernandes)

Turonio, = Vigo. Turoña, Entieza, Salceda de Caselas (M. Fernández).
Turonho,Vigo (A. Fernandes).

Celesantes = Cessantes, Redondela.

Toruca (leitura de P. David) =Turoqua, actual Pontevedra (M. Fernández)
Toraca (leitura de A. Fernandes) =Taranca, Rio de Moinhos, Arcos de Valdevez. A civitas de Toraca onde se localiza o castelo de Valdevez alterou o topónimo Taranca (séc. XIII) para Villa Tranca (A. Fernandes).

Aunnone (leitura de P. David), Annove = Anova, a Nova, designação actual, da civitas vetus no século XII. Calheiros, Ponte de Lima (A. Fernandes 1997).

Sacria = ?

Erbilione = Ervelho, Cristelo Covo, Valença do Minho. Erbilio ficava junto do morro onde se fundou Valença (A. Fernandes).


Cauda (leitura de P. David)
Canda (leitura de A. Fernandes) = Alvaredo, Melgaço. Perto da Cividade de Paderne, existiu antes da nacionalidade, a igreja dedicada a Santa Maria Canda (A. Fernandes).

Ovinia, = Vinha, antiga designação de Areosa, Viana do Castelo. Nos PMH, Inquis., p. 330, em 1258, vem ainda mencionada como ”parrochia Sancte Marie de Vinea”. A Civitas Ovinia estaria na “Cidade Morta” de Santa Luzia (A. Fernandes).

Cartase = Cartas, Mentrestido, Vila Nova de Cerveira. O topónimo fica perto da Cividade do Cossourado (A. Fernandes).

Firmín Pérez Losada (2002, 64) realça, assim, a posição atingida por Tuy no relacionamento com os castella vizinhos, alguns também mencionados por Plínio e depois esquecidos: Seurbi, Leuni.
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Após os Flávios, a influência do castellum Tyde estabilizou dominando vasta área do Baixo Minho com vários castella cuja identidade se diluiu à medida que Tuy crescia no esquema administrativo romano e dele ficaram dependentes em continuidade histórica.

É sintomático que de dezasseis paróquias suévicas dominadas por Tuy oito, segundo a identificação de A. Fernandes, sejam sucedâneas de castros de expressiva dimensão e estejam na margem esquerda. As restantes oito ou são galegas ou sem identificação conhecida no território português.

Castro do Coto da Pena , Caminha
M 08º 50’ 07’’ P 41º 51’ 58’’ Alt. 123m
Povoado castrejo com ocupação desde o Bronze Final.
Descrição:
Posta de parte a filiação em “Villa Velha” de Luís Figueiredo Guerra, e a de Avis de Brito, Vilar Velio> Vilarelio> Vilarelho> Vilarelho, é de aceitar a explicação, mais simples e natural, de Leite de Vasconcellos, Vilarelho = Villar + elho (de Villariculum).
Cerca de 1120, o árabe Edrici localiza duas fortalezas na foz do Minho, uma mais eminente chamada Abraca. Terá servido de base de operações à invasão de Almançor. Esta poderia estar soterrada no maciço mais alto da muralha da restauração que tem aparência de se servir de estruturas medievais num dos panos. Consta que uma das casas solarengas da sua periferia tem cisterna medieval, conhecida por aluimentos de terreno.
Bem perto de Caminha as Inquisitiones, dão como existente um castelo iminente em Vilarelio.
Está situado em posição eminente ao sapal da margem esquerda do rio Coura, num esporão, na periferia da zona urbanizada.
Silva, A.C.F. fez nele demorada intervenção arqueológica, servindo-lhe o espólio que dele exumou de padrão de confronto cronológico com outras estações que estudou.
Estruturas:
Tem muralha e estruturas habitacionais desde o Bronze Final.
Neste povoado, Silva, A. C. F. detectou evidências de construção pétrea de recinto doméstico, devidamente sinalizadas cronologicamente como do Bronze Final, com fíbulas Alcores e Acebuchal (Silva 1986, Est. CI) e foice de talão aliadas a elementos cerâmicos, o que lhe permitiu fazer remontar a implantação de povoados castrejos ao Bronze Final.

Espólio:
Metais característicos do Bronze Final: além das fíbulas mencionadas e foice de talão, tem xorcas em sanguessuga e pingentes de possíveis arrecadas com paralelos em Santa Tecla e no tesouro do Gaio; cerâmica manual. Materiais documentando presença contínua até Idade Média

A. Baptista Lopes

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