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Location: porto, portugal, Portugal

Tuesday, December 26, 2006


PRÉ-HISTÓRIA

Indústrias líticas do litoral minhoto

O nome de Âncora é celebrizado como estação epónima de artefactos líticos de características singulares. Investigadores do nosso paleolítico deram o seu melhor no estudo do pico ancorense e do seu congénere, o pico asturiense, se entre eles há distinção. Desde Rui Serpa Pinto, Martins Sarmento e Abel Viana se têm esforçado, denodadamente, os arqueólogos investindo na sua caracterização, estudo de dispersão, e no dos restantes instrumentos associados, lascas, raspadeiras, núcleos e pesos de rede. Abundam pelas praias, de Viana à costa galega, onde convivem os mais antigos com produções mais recentes pois a tecnologia da sua produção e utilização teve nestas zonas litorais uma vigência multissecular. Têm os arqueólogos o cuidado de os extremar por tipologias e de atender a aspectos de erosão, degradação de arestas, ângulos de fractura, patine, morfotipologia do gume e do recorte e retoque de lascas.
Os estudos mais antigos, embora não desprezassem informações estratigráficas, baseavam sua análise em materiais, na maior parte recolhidos nas cascalheiras litorais. O avanço e maior exigência da prática arqueológica leva os investigadores actuais, que se dedicam ao paleolítico a minuciosas escavações, a ter apenas em consideração dados obtidos em contextos estratigrafados.
Tem sido dinamizador deste estudo José Meireles, conhecedor da evolução morfo-sedimentar e pedológica da zona, que no concelho de Caminha escavou terraços na Gelfa e em Santo Isidoro, para esclarecimento da problemática do Quaternário na região.
Identifica aí formações marinhas recentes que insere no enquadramento “cronoestratigráfico do Plistocénico da fachada atlântica europeia”.
Os seus estudos, em terraços seleccionados, permitiram-lhe identificar sucessão de ritmos dinâmicos diversos, alternando-se momentos de climáticos rigorosos com outros de maior amenidade que deixaram marcas na morfologia estratigráfica do solo.
José Meireles situa os primeiros vestígios de presença humana na região de Caminha, segundo os dados de escavação, segundo ele, integrados na sequência litoestratigráfica regional, incluídos “no seio da penúltima unidade sedimentar de origem marinha com vestígios que atribui à indústria Acheulense, com cronologia entre 250.000 e 200.000 B. P. .
Caracterizando a indústria do instrumental dá-se conta de uma certa preferência pelo talhe unifacial dos utensílios.
Esta preferência standardizada no litoral minhoto, é verificada no Plistocénico Superior e não representa sinal de arcaísmo, mas uma adequação funcional de determinado tipo de material do modo julgado mais eficiente e simples.


É de notar que a tecnologia desta produção de instrumentos líticos persistiu com idênticas soluções para idênticas finalidades e abundam nos povoados convivendo com os utensílios metálicos, colmatando a sua escassez, ou mesmo substituindo-se-lhes na eficiência em determinadas tarefas. A etnografia documenta o uso hodierno ao retirar peles, que se querem preservar sem cortes desnecessários, de animais destinados à dieta alimentar, por artesãos munidos de lascas líticas, que introduzem entre as peles e carne dos animais abatidos, para rapidamente os esfolarem, tarefa que não seria mais cómoda com outro tipo de objecto cortante.
A. Baptista Lopes


MEGALITISMO

Entre os monumentos mais emblemáticos existentes no concelho de Caminha, documentando a presença humana na fase de sedentarização nestas paragens, o mais conhecido por melhor conservado na sua estrutura pétrea é sem dúvida o dólmen da Barrosa.
Testemunhando, com outros monumentos congéneres desta zona, o dólmen da Eireira entre outros, a inserção do Norte de Portugal neste vasto fenómeno de profunda alteração de hábitos e de modo de viver e de relacionamento com o meio ambiente, mudanças sócio-económicas e culturais que aqui se desenvolveram, potencializadas, certamente, pela amenidade do clima, fertilidade do solo e riqueza quase inesgotável de recursos piscícolas dos rios, circunstâncias apelativas a mais prolongada permanência e fixação do homem pré-histórico, o que terá acontecido, em lento processo de evolução ao longo dos dois mil anos que precederam o IV milénio a. C..
A planície do vale do Âncora é uma vasta extensão de solo de primeira qualidade agrícola, resultante da erosão marítima e da posterior sobreposição de estratos aluvionares das serras circundantes, que a protegem dos ventos e nela permitem a concentração de calor e para aí fazem convergir as águas fertilizantes das vertentes.
Era um sítio ideal para assistir à fixação do homem, à adopção de novos padrões de economia produtiva, à evolução de um estádio de sociedades predadoras para uma fase de mais garantida subsistência, complementando a mariscagem abundante e a pesca, com apascento do gado e iniciando o cultivo das primeiras sementes na terra fértil, que ocupou com monumentos demonstrativos da sua capacidade de organização do trabalho, de hierarquização, domínio territorial, e que manifestam capacidades técnicas, padrões de mentalidade e aspectos culturais surpreendentes.
O dólmen da Barrosa, em Vila Praia de Âncora, a antiga Gontinhães, é um dos espécimes melhor conservados, no panorama de monumentos megalíticos existentes no país.
Apresenta na sua integridade a câmara funerária, com a pedra de cabeceira fracturada no topo, os esteios imbricados sustendo a laje de cobertura e, a balizar o que seria extenso corredor, dois alinhamentos de pedras mutiladas. Nem faltam vestígios do tumulus que cobria o monumento, mas que a erosão e a desastrada intervenção humana danificou. Dos seus esteios foram levadas gravuras rupestres que ornamentavam o interior; testemunhos culturais dos primitivos habitantes desta terra, e que dormem o sono do esquecimento no Museu da Faculdade de Ciências, longe da sua origem.
Nos recintos dolménicos a inumação era cercada de rituais, sendo os mortos depositados com o aparato correspondente ao seu status, com os seus pertences, adereços, armas e objectos de utilidade comum. A reserva ritual de objectos que custavam adquirir e de prestígio dá-nos a entender interessantes aspectos culturais e de mentalidade, do respeito tributado aos mortos, ou a certos mortos, quer signifiquem crença num estádio de vida em que seriam precisos ao defunto, armas para se defenderem e sobreviverem, baixela para se alimentarem e adornos de identificação na sua categoria social, quer fossem tradução de mero simbolismo ritual.
Alguns dólmens conhecidos, menos vandalizados ao longo dos tempos, conservaram pinturas que nos esclarecem de aspectos do tipo de actividades e até do seu gosto artístico. No da Barrosa essas manifestações não sobreviveram, nem mesmo as gravadas no granito.




Retirados dele, estão depositados no Museu da Faculdade de Ciências do Porto, aos Leões, dois fragmentos de esteios decorados.

A. Baptista Lopes










Estas manifestações de uma arte simbólica, cujo grafismo nos esconde uma mensagem que não sabemos descodificar, não são as únicas manifestações artísticas que o concelho de Caminha e os contíguos conservaram, preservados das contrariedades da evolução e alteração do ambiente. Dispersos pelos montes, em rochedos naturais, protegidos pelo esquecimento e pela inacessibilidade, persistem núcleos de gravuras rupestres de diversa natureza e tipologia.

São disso exemplares notáveis pela sua extensão e originalidade a Laje das Fogaças e a Laje das Carvalheiras, Lanhelas, Caminha.
A primeira, de difícil acesso, pois se encontra nas imediações de oficina de pirotecnia e se prolonga sob terreno cultivado e murado e sob o piso de terra de um caminho vicinal, associa motivos abstractos, se não representação de implantação de povoado com seus desenhos de cercados, a representações de cervídeos que sugeriram a A. C. F. Silva associação ao nome dos Seurvos de que a toponímia conservou a memória na designação de Cerveira, o povo mais vizinho.

Descontando a louvaminha de Estrabão para subir no conceito do imperador, ele grego de origem e de cultura, o que é certo é que a prática de má vizinhança, se existia, levava a desejar a contenção de tal estado de coisas e a estimar a estabilidade que ocasionava um poder de mão forte, que seria tido em conta de benefício, mesmo vindo dos romanos, acrescendo a admiração natural por uma cultura superior, um fazer diferente e melhor, que levou ao desejo de imitação, esbateu as barreiras entre conquistadores e conquistados. De resto, os generais romanos tomaram estratégicas medidas de aliciamento, evitando odiosas intervenções e alardeando clemência, distribuindo terras a vencidos, fazendo ver as vantagens da organização do estado de direito, como agora se diria. O estabelecimento de tratados, o apelo a Roma pelos indígenas contra desmandos e prepotências de generais, mesmo quando não atendidos, dão a supor uma certa reverência e confiança numa autoridade que ou se prefere a uma pior ou se tolera.




Em 138-136 a.C. o general romano Décimo Júnio Bruto, empreendeu numa expedição punitiva contra os galaicos, com o pretexto de terem ajudado os seus vizinhos do Sul , os lusitanos.
Depois de uma acidentada travessia do Lima, vencida a renitência dos soldados em acompanhá-lo, temerosos de que esse rio fosse o fabuloso Letes, chega ao o rio Minho.
Não o atravessou dizem as fontes. Também não é de supor que se tenha retirado apressadamente.
Esse contacto, pelas motivações, proporções assumidas, meios envolvidos, influenciou o mundo indígena que a ele teve de se opor, adequando a sua resistência, copiando estratégias, imitando tecnologias, aparato e artefactos.

Para A. C. F. Silva, atendendo à importância deste acontecimento, e à correspondência cronológica de alterações tecnológicas verificadas nos artefactos arqueológicos por ele exumados nos castros da zona, esta data é considerada baliza iniciadora de nova época da sua periodização cultural da civilização castreja do Noroeste.

Novas relações foram estabelecidas com Roma, reforçadas com a pacificação e ocupação do Noroeste Peninsular, após as guerras cântabras (29-19 a. C.).

1 Comments:

Blogger Ovínia said...

Os dados obtidos em contextos estratigrafados, podem ter permitido que se tivesse obtido as mais variadíssimas informações.
Agora considerar unicamente como válido o critério do contexto cronoestratigráfico no âmbito da investigação é um erro e um fundamentalismo.
Não se admite que ainda não se tenha apurado sequer o óbvio.
A maioria dos especialistas não conhece a região, limitam-se a construir uma narrativa baseada em elementos desconexos entre si mas que só aparentemente fazem sentido.
Acredite !

6:47 PM  

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